sexta-feira, 23 de julho de 2010

Uma homenagem de filho para pai

O leitor Rafael Rodrigues Brack da Silva, 20 anos de idade, perdeu o pai recentemente e escreveu um texto a respeito. Gostei do relato do Rafael, e o publico aqui como homenagem ao amor entre pai e filho.

“Me lembro quando acordava aos domingos de inverno, com minha mãe dizendo: - Te agasalha que tá frio. Ah, e tá chovendo também! "

Já ficava chateado, pois tinha que chover justamente em dia de jogo no Beira-Rio. Levantava, tomava banho e ia com o meu pai buscar almoço. Na mesa do almoço meu pai repetitivamente perguntava a minha mãe se ela não se importava em ficar sozinha em casa. Ela respondia que não, mas ficava preocupada em nos molharmos. Ela sempre dizia, que com aquela chuva, ia deitar e não sairia de casa por nada. Ahhh, ela não se importava!!!! Meu pai pegava todas as coisas dele e levava para o meu quarto, para nos arrumarmos juntos. Era um moletom, outro moletom, mais um moletom e por fim, as nossas velhas camisetas coloradas. Boné, bandeira nas costas, pegávamos as nossas carteirinhas…

La íamos nós, debaixo do mesmo guarda chuva. Caminhávamos pela Avenida Ipiranga, entravamos na Getúlio Vargas, depois a José de Alencar e enfim a gloriosa Padre Cacique. Nesse trajeto, falava ao meu velho amigo das novidades que aconteciam comigo. Dos amigos que conhecia, das gurias que ‘ficava’, das boas notas e dificuldades da escola e ele sempre muito orgulhoso, vibrava com qualquer notícia que eu dava. Ele dizia também da alegria de ter os amigos que tinha, das saudades que sentia, da importância da minha mãe na vida dele e o quanto fazia bem o nosso companheirismo. Ah, e era um baita companheirismo. Íamos de braços dados até o estádio.

Entravamos no pátio do Gigante da Beira-Rio e nos sentíamos em casa. Passávamos pela roleta do Portão 8 e daí era só festa. Sempre aplaudíamos a entrada do INTER, nos irritávamos e discutíamos diversas vezes com os lances do jogo, mas comemorávamos com muita euforia os gols do Colorado. Ele sempre dizia que não teve nada igual ao Inter de 70 e da saudade que tinha de Manga, Valdomiro, Falcão, Flávio Minuano e Dário. Ríamos, brincávamos um com o outro, cantávamos (ele sabia todas as cantigas), mandávamos o juiz longe e por aí vai.

Saíamos do Gigante e voltávamos pelo mesmo trajeto. Abraçados, unidos, amigos, companheiros e ele sempre com a mesma frase: - Meu filho, pode brigar comigo, mas enquanto eu estiver vivo, eu vou estar sempre do teu lado, te protegendo!

Porto Alegre, 18 de julho de 2010

Foi um domingo chuvoso na capital gaúcha. Acordei gripado e com um pouco de asma. Minha mãe preparava o almoço e pedia que eu não fosse ao jogo do Inter à tarde (o primeiro jogo do Internacional no Beira-Rio, depois que perdi o meu maior, melhor e mais fiel amigo: meu pai). Almocei, fui ao meu quarto, abri o armário e não resisti. Coloquei dois moletons, a camiseta do colorado que meu pai me deu quando eu fiz 18 anos, touca, manta, casaco, carteirinha e fui caminhando pelas ruas em direção ao Estádio Beira-Rio. Devo admitir que foi um pouco diferente fazer todo este trajeto sem aquela figura adorável ao meu lado. Fui eu, caminhando e lembrando-me de todos os momentos naquele caminho percorrido.

Cheguei ao Gigante da Beira-Rio e fui direto à bilheteria. Pedi somente um ingresso (antes eu pedia dois). Quando estava caminhando rumo ao Portão 8, estava chegando a delegação colorada. Cheguei pertinho e vi todos os jogadores descendo do ônibus. Ah, quando desceu o zagueiro Índio. Fechei os olhos e me lembrei daquela noite de 16 de agosto de 2006, aqueles minutos finais, eu, meu pai, meus tios Kiko e Leco, meus primos Junior e Lucas, enlouquecemos com a nossa primeira conquista da América. Passado este momento, me dirigi ao portão e passei pela catraca. Esse momento foi o mais saudoso, parecia que estava vendo meu pai levantando os braços para a revista dos brigadianos.

O Inter entrou em campo…(lágrimas)… O jogo começa e logo o juiz marca um pênalti para o colorado. Alecsandro vai para a cobrança. Pensei comigo, que seria o primeiro gol no Gigante sem o meu pai, como seria essa comemoração? Quando ele partiu para a cobrança, vi Claudiomiro, Figueroa, Célio Silva, Christian, Fernandão e Nilmar juntos partindo e…..GGOOOOOOOOLLL…

Vi meu pai sorrindo. Sim, ele estava feliz. E fica a certeza da última frase que disse a ele: Tu vais estar sempre no GIGANTE comigo. Tá, papai? Eu te amo!

*** Ao Torcedor Rafael Rodrigues...

Nossas desculpas por postarmos este texto, mas foi uma forma de também homenagearmos seu pai.

Nossos sentimentos pela sua perda...

Nosso abraço Colorado...


Lu Lima - Meninas da Mureta

3 comentários:

  1. nossa muito emocionante,
    n tive como n conter as lagrimas
    estou arrepiada ate agora

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  2. Oi meninas!

    Sou o Rafael Rodrigues Brack da Silva e fiquei muito feliz em abrir o site de vocês e encontrar o meu texto aqui. Agradeço de coração!

    Nos encontramos no GIGANTE...

    Saudações Coloradas,
    Rafael

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  3. Rafael! Dê uma passadinha na Mureta, atrás do Banco Adversário, na Social Inferior para nos dar um abraço amigo! Ter teu comentário em nosso blog foi um privilégio! Abraço! Lu Lima -Meninas da Mureta

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